quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Em busca do tempo encontrado



                                                                                                                            Elisa Maria Pitombo

Foi essa a frase que me ocorreu ao término da exibição do documentário de Toni Venturi, Vocacional, uma aventura humana que participou da competição de longa e média metragem do 16 º Festival Internacional de Documentários É  Tudo Verdade 2011, no dia 2 de abril de 2011 no Cine Cultura.
Reencontrei na longa fila de espera para a retirada de ingressos para a exibição, colegas, professores e funcionários dos Ginásios Vocacionais, que com abraços saudavam uns aos outros os bons tempos de escola pública da década de 60, que fez de nós cidadãos atuantes e conscientes.
 Encontrei nos olhos dos outros o orgulho de ter a nossa vivência juvenil partilhada com o mundo, sim a nossa, pois de fato construíamos o conhecimento quando, por exemplo, decidíamos o currículo com professores em aula chamada Aula Plataforma, dentre muitas das atividades escolares. Tive a honra de ter participado de uma das mais significativas experiências educacionais que esse país já teve, numa época em que muitos ousavam, mas poucos resistiram... Fui da turma de 1963.
Chnauderman, ao discorrer no capítulo Uma escuta - olhar: a experiência do cinema, na obra Psicanálise, Arte e Estéticas de subjetivação (2002), cita que Kátia Lundt, par de João Moreira Salles no documentário Notícias de uma guerra particular (1999)  afirma que ”  ... é preciso ter curiosidade pelo mundo, ter uma questão que você quer entender, para fazer um documentário ( p.132) “.
Penso que Toni Venturi, ao realizar o documentário a partir de sua própria experiência educacional no Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, precisava entender porque uma escola que estimulava o saber e o prazer no aprender, foi extinta brutalmente pela ditadura militar de 1964. Tive também a mesma inquietude ao longo dos anos.
O achado para tal questão pode ser visto no brilhante documentário através do vivo depoimento, fotos e imagens cinematográficas de professores, de alunos e de familiares da saudosa Maria Nilde Mascelani (1931-1999) e seu legado educacional.
Idealizadora de um modelo progressista e pioneiro na educação pública brasileira, os Ginásios Vocacionais, instalados na década de 60 em São Paulo, Batatais,  Americana, Rio Claro, Barretos e São Caetano do Sul,  visaram a formação multidisciplinar de alunos e, sobretudo, instigavam que os alunos fossem sujeitos de sua própria história, ou seja, agentes de transformação. Para isso, as escolas uniam projetos interdisciplinares e viagens de estudo, por meio de uma intensa participação dos estudantes em equipes, sempre estimulados a se expressarem e participarem sobre todas as questões escolares e sociais.
Educadora humanista, Maria Nilde Mascelani lutou com coragem e determinação em prol de seus ideais numa época em que ser consciente era ser subversivo, ser atuante era ser comunista, ser educador respeitado e preparado era uma ameaça. Enfim, sua luta não foi inglória, deixou discípulos, várias obras e, acima de tudo, a esperança na Educação no Brasil.
No documentário Vocacional, uma aventura humana, encontrei fios para tecer o entendimento de fatos caros à minha memória. Esta exibição cinematográfica cumpre definitivamente a função de documentário, uma vez que amplia o entendimento de um exemplo enigmático da Educação no Brasil.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012





Título original: Phoebe in Wonderland
Duração: 95 minutos (1 hora e 35 minutos)
Gênero: Drama
Direção: Daniel Barnz
Ano: 2009
País de origem: EUA

Nesse belo filme, a família de Phoebe parece perdida com relação a ela, mostrando-se desinformada e alheia aos problemas da filha. É justamente ela que assinala que precisa de ajuda, pois não sabe como lidar com seus impulsos. No entanto, todas as situações são trazidas de uma maneira bastante humana, ou seja, com acertos e erros.
Quando o terapeuta psiquiatra trata a menina e identifica a síndrome, a mãe, não suportando essa informação, retira Phoebe da terapia. O casal fica em desacordo nas questões familiares, realmente confusos em relação ao que poderia estar acontecendo com a filha. Ambos preocupados com suas carreiras, mas ainda assim amorosos, tentam compreender o que acontece e tentam ajudá-la sem muitos recursos, pois há um descompasso da família em algumas questões que não ficam bem esclarecidas no filme. O pai se distancia um pouco por conta de seus compromissos acadêmicos.
É interessante notar como as crianças nessa película são cientes de seus papeis e angústias. Desde o melhor amigo de Phoebe, que deseja interpretar na peça teatral da escola um personagem feminino, até sua irmã que expõe seu desconforto em relação a ela, são crianças que refletem como espelhos seus sentimentos. Apenas Phoebe expõe seu lado afetivo de modo compulsivo e confuso...
Na trama do filme, delicadamente tecido sobre a história do livro de Lewis Carol, Phoebe passeia entre a realidade e a fantasia de Alice. No entanto, a fantasia começa a solapar a sua realidade e os gestos repetitivos e inadequados intensificam-se, como por exemplo o gesto de cuspir.
Mas havia um ambiente onde de fato Phoebe sentia-se bem, no teatro, desempenhando o papel de Alice. Foi apoiada pela professora, que na visão psicopedagógica, permitiu à menina uma autonomia para compor os personagens e a peça. Esse ambiente afetivo e de confiança auxilia posteriormente a sua inserção no mundo escolar, já ciente de sua situação psicológica. No entanto, a professora também apresenta um comportamento questionável, uma vez que coloca a menina em risco de vida quando permite sua subida ao ponto mais alto do teatro.
O filme mostra o lado humano dos pais, a mãe envolvida num trabalho no qual expõe a filha que mergulha de cabeça na fantasia de Alice e passa então a sonhar e viver segundo a própria personagem da história. Quando surge a oportunidade de participar da peça de teatro na escola, Phoebe já transita entre fantasia e realidade e acaba incorporando a Alice da peça.
Começa a delirar quando vê e fala com os personagens, que são as pessoas de seu convívio transformadas em personagens da história de Alice no País das Maravilhas. No início, aparentemente a menina não demonstra possuir uma patologia, pois existe muita fantasia em casa e na escola.
A escola é inadequada, não acolhe a menina questionadora e curiosa, sensível ao mundo ao redor, confusa entre realidade e fantasia, acabando por se entregar a esta última quando a realidade passa a ser insuportável.
A pior doença acaba por ser a ignorância. O conhecimento traz esclarecimentos, luz onde havia confusão e dúvidas, negação e muita dor.
A patologia da menina estava encoberta no circulo familiar. À medida em que ela descobre o teatro, tudo vai se descortinando, a doença e o caminho para a resolução. A arte abre a possibilidade de Phoebe expressar-se de outra forma e nela encontra um caminho de libertar-se.

terça-feira, 6 de novembro de 2012



A Menina no País das Maravilhas (Phoebe in Wonderland)

O que acontece com Phoebe?
Ela mistura realidade e fantasia para lidar com suas angústias. Os pequenos rituais comuns da infância, com os quais as crianças brincam, vão assumindo proporções dolorosas quando esta menina de 9 anos passa a achar que suas ações podem mudar a realidade a sua volta. 
O filme traz a dificuldade dos pais e da escola para lidar com situações inesperadas vividas pelas crianças - e o papel libertador que a arte pode assumir na educação.

É sábado, 10 de novembro, as 16:30!

Confirmem sua presença!


segunda-feira, 18 de junho de 2012

A culpa é do Fidel

Dia 18/8, as 16 horas, o Desenrolando a Fita discutiu o filme "A culpa é do Fidel!".


Diretor: Julie Gavras
Elenco: Nina Kervel-Bey, Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Benjamin Feuillet, Martine Chevallier, Olivier Perrier, Marie Kremer
Produção: Sylvie Danton
Roteiro: Julie Gavras, Domitilla Calamai, Arnaud Cathrine
Fotografia: Nathalie Durand
Trilha Sonora: Armand Amar
Duração: 99 min.
Ano: 2006
País: Itália/ França
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Estúdio: Gaumont / Canal+
Classificação: 14 anos


Anna, uma menina de 9 anos, é filha de um advogado espanhol e de uma jornalista francesa que não conseguem  ficar à parte da efervescência política na Paris do início dos anos 1970. Antes acomodados ao status quo de sua privilegiada condição social, os pais de Anna renunciam de alguns “luxos” e passam a participar de movimentos em prol do governo Allende, no Chile, o que transforma o agora apertado apartamento da família em um verdadeiro quartel general de militantes socialistas.

Em função dessa nova tomada de posição de seus pais diante dos valores que antes defendiam, a menina fica dividida entre a tradição (representada por seus avós, por sua escola católica, pela antiga empregada que cuidava dela e de seu irmão menor) e um mundo totalmente novo que se apresenta ao seu redor, cheio de situações que ela não compreende bem, pois fica apartada do processo que levou a esse novo quadro.

Questionadora, porém, começa a investigar, ouvindo conversas, pensando tudo à sua volta: as atitudes dos pais, as conversas com as várias babás que vão passando pela família, as próprias descobertas e experiências vão levando  a menina a montar o quebra-cabeça em que se transformou sua vida burguesa, agora virada de pernas para o ar.

Seu universo infantil vai se transformando e, aos poucos, de sujeito excluído, pois seus pais não atendiam a contento seus questionamentos, Anna começa a pertencer, se apropriando de conceitos ouvidos nas reuniões dos socialistas em sua casa (espírito de grupo, aborto, preconceito e solidariedade).

É curioso como o filme mostra uma polarização do processo vivido naquela época: ou se é uma coisa ou outra, ou se é católico ou se é socialista, ou se é rico ou se é pobre. Não há espaço para  as muitas nuances envolvidas nas novas situações. Mas Anna, inteligente, busca respostas, presta atenção, observa a movimentação dos adultos, constrói-se  enquanto sujeito. E assim o universo adulto começa a ser desvendado. As peças do quebra-cabeça vão se encaixando e já não é mais uma criança excluída, mas começa a se sentir pertencente às conversas que agora habitam seu universo.

    
O filme apresenta uma reflexão psicopedagógica interessante sobre o lugar do conhecimento cotidiano familiar para uma criança, pois é recheado de colocações políticas e valores típicos de uma era de mudança de paradigmas: aborto, papel da mulher, evolucionismo, religião. A personagem lê as situações conforme as suas posssibilidades de conhecimento. E os adultos ora   subestimam   sua compreensão infantil ora a consideram capaz de compreender as situações segundo o código adulto. E as questões pululam a cabeça e o coração de Anna... solidariedade...aborto...criação do mundo... barbudos...divisão de bens... Mas no final triunfa a sua capacidade de pensar e opinar com autonomia, não perdendo a chance de se colocar, em sua antiga escola, a favor da liberdade.