Elisa Maria Pitombo
Foi essa a frase que me
ocorreu ao término da exibição do documentário de Toni Venturi, Vocacional, uma aventura humana que
participou da competição de longa e média metragem do 16 º Festival Internacional
de Documentários É Tudo Verdade 2011, no dia 2 de abril de
2011 no Cine Cultura.
Reencontrei na longa fila
de espera para a retirada de ingressos para a exibição, colegas, professores e
funcionários dos Ginásios Vocacionais, que com abraços saudavam uns aos outros
os bons tempos de escola pública da década de 60, que fez de nós cidadãos
atuantes e conscientes.
Encontrei nos olhos dos outros o orgulho de
ter a nossa vivência juvenil partilhada com o mundo, sim a nossa, pois de fato construíamos
o conhecimento quando, por exemplo, decidíamos o currículo com professores em
aula chamada Aula Plataforma, dentre muitas das atividades escolares. Tive a
honra de ter participado de uma das mais significativas experiências
educacionais que esse país já teve, numa época em que muitos ousavam, mas
poucos resistiram... Fui da turma de 1963.
Chnauderman, ao discorrer
no capítulo Uma escuta - olhar: a
experiência do cinema, na obra Psicanálise, Arte e Estéticas de
subjetivação (2002), cita que Kátia Lundt, par de João Moreira Salles no
documentário Notícias de uma guerra
particular (1999) afirma que ” ... é preciso ter curiosidade pelo mundo, ter
uma questão que você quer entender, para fazer um documentário ( p.132) “.
Penso que Toni Venturi, ao
realizar o documentário a partir de sua própria experiência educacional no
Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, precisava entender porque uma escola que
estimulava o saber e o prazer no aprender, foi extinta brutalmente pela
ditadura militar de 1964. Tive também a mesma inquietude ao longo dos anos.
O achado para tal questão
pode ser visto no brilhante documentário através do vivo depoimento, fotos e
imagens cinematográficas de professores, de alunos e de familiares da saudosa
Maria Nilde Mascelani (1931-1999) e seu legado educacional.
Idealizadora de um modelo
progressista e pioneiro na educação pública brasileira, os Ginásios
Vocacionais, instalados na década de 60 em São Paulo, Batatais, Americana, Rio Claro, Barretos e São Caetano
do Sul, visaram a formação
multidisciplinar de alunos e, sobretudo, instigavam que os alunos fossem sujeitos
de sua própria história, ou seja, agentes de transformação. Para isso, as
escolas uniam projetos interdisciplinares e viagens de estudo, por meio de uma
intensa participação dos estudantes em equipes, sempre estimulados a se
expressarem e participarem sobre todas as questões escolares e sociais.
Educadora humanista, Maria
Nilde Mascelani lutou com coragem e determinação em prol de seus ideais numa
época em que ser consciente era ser subversivo, ser atuante era ser comunista,
ser educador respeitado e preparado era uma ameaça. Enfim, sua luta não foi inglória,
deixou discípulos, várias obras e, acima de tudo, a esperança na Educação no
Brasil.
No documentário Vocacional, uma aventura humana, encontrei
fios para tecer o entendimento de fatos caros à minha memória. Esta exibição
cinematográfica cumpre definitivamente a função de documentário, uma vez que
amplia o entendimento de um exemplo enigmático da Educação no Brasil.